(LXXIV)
Me cansei de pensar como cansado
Não se encontra de vos meu pensamento,E como desta vida não me ausento
Por não estar de suspiros abrumado;
E como de dizer de tão amado rosto,
Velos e olhos que sem trégua distância,Não hão falado a língua e o acento
Que de dia e de noite os hão chamado;
E de que já os pés não sentarei laços,
De seguir vosso rastro em toda essa partePerdendo inutilmente tantos passos;
Dele chega ao papel que por minha parte,
De vos cheio, e a tinta: e meus fracassos,Serão a culpa desse Amor, não falta de arte.
(XXXV)
Medido —abstraído, ao passo vagaroso—,
Nos campos mais desertos, devagar;Mas se hei ruir, minha visão é zelosa:
Que ante um vagar humano me acovardo.
Não sei falar mais vou socorro couto,
Do sem claro dar-se conta da gente,Pois no comportar-me tristemente,
Desde fora se vi que por dentro ardo:
Tanto, que creio já que monte e rio,
Riacho e selva sabem o desejo,Minha vida, pois não há outro protesto.
Mas caminho tão áspero e bravio,
Não digo Amor não seja meu consorte:Eu com ele repartir, e ele comigo.
FRANCESCO PETRARCA
TRAD. ERIC PONTY
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