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sábado, junho 02, 2018

Gavin Bryars – DUAS CANÇÕES DE AMORES – 2016

(LXXIV)

Me cansei de pensar como cansado
Não se encontra de vos meu pensamento,
E como desta vida não me ausento
Por não estar de suspiros abrumado;

E como de dizer de tão amado rosto,
Velos e olhos que sem trégua distância,
Não hão falado a língua e o acento
Que de dia e de noite os hão chamado;

E de que já os pés não sentarei laços,
De seguir vosso rastro em toda essa parte
Perdendo inutilmente tantos passos;

Dele chega ao papel que por minha parte,
De vos cheio, e a tinta: e meus fracassos,
Serão a culpa desse Amor, não falta de arte.

(XXXV)
Medido —abstraído, ao passo vagaroso—,
Nos campos mais desertos, devagar;
Mas se hei ruir, minha visão é zelosa:
Que ante um vagar humano me acovardo.

Não sei falar mais vou socorro couto,
Do sem claro dar-se conta da gente,
Pois no comportar-me tristemente,
Desde fora se vi que por dentro ardo:

Tanto, que creio já que monte e rio,
Riacho e selva sabem o desejo,
Minha vida, pois não há outro protesto.

Mas caminho tão áspero e bravio,
Não digo Amor não seja meu consorte:
Eu com ele repartir, e ele comigo.


FRANCESCO PETRARCA
TRAD. ERIC PONTY

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