Pesquisar este blog

sexta-feira, junho 22, 2018

Garcia Lorca, Federico - BODAS DE SANGUE - TRAD. ERIC PONTY

Habitação pintada de rosa com cobres e ramos de flores populares. No centro, uma mesa com mantel. É de manhã. Sogra de Leonardo com um menino nos braços. Embala. À mulher, e na outra esquina, fazendo pouco media.

SOGRA.- Nana, menino, nana,
Do cavalo grande
Que não quis à agua.
Água era negra
Dentro dos ramos.

Quando chega ao poente
Se detém e canta.
Quem dirá, meu menino,
O que tem d´agua
Com sua larga cola
Por sua verde sala?

MULHER.- (Baixo)
DORME, cavalinho,
Que o cavalo não quis beber.

SOGRA.- Adormece, rosal,
Que o cabalo se põe a chorar.
Às patas feridas,
Às crinas veladas,
Dentro dos olhos
Um punhal de prata.
Balsavam ao rio.
Ai, como baixavam!
O sangue corria
Mais forte que água.

MULHER.- (Baixo)
DORME, cavalinho,
Que o cavalo não quis beber.
  
SOGRA.- Dorme, rosal,
Que o cavalo se põe a chorar.
 
MUJER.- Não quis tocar
Na orelha molhada,
 Seu belfo quente
Com moscas de prata.

Aos montes duros
Só relinchava
Com o rio morto.
Sobre a garganta.
Ao cavalo grande
Que não quis d´agua!
Ai dor de neve,
Cavalo d´alba!
Garcia Lorca, Federico
TRAD. ERIC PONTY

Nenhum comentário: