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quarta-feira, março 07, 2018

DO AMOR - PEDRO SALINAS - TRAD. ERIC PONTY

Quanto no instante te hei olhado
Sem observa- lê, na imagem
Tão exata e tão inacessível
Que te refletiste ao espelho!

«Beija-me», dizes. Te beijei,
E então te beijando penso
Nos frios que serão
Teus lábios no espelho.

«Toda à alma é a ti»,
Murmuras, porém ao peito
Sinto-me qual vazio só
Me legará desta alma
Que não me ofereces.

Esta alma que se vela
Desfazendo das claridades
Em tua forma do espelho.

A Difícil


Nos extremos se acham
De ti, por eles te buscam.
Amar-te: que partir e vir
Em ti mesma de ti mesma!

Ao dares contigo, acerca
Que distante farás de ir!
Amor: distâncias, vaivém
Sem parar.

No meio do caminho, nada.
Não, tua voz não, teu silêncio.
Redondo, terso, sem partisse,
Como ar, são perguntas
Apenas lhe rizam,
Como pedras, perguntas
No fundo se as guardara.
São superfície em silêncio
E eu olhando-me nela.
Nada, teu silêncio, sim.

O todo é teu grito, sim.
Afiado num silêncio,
Acero, raio, seta,
Rasgador, desgarrador,
Que exatidão repentina.

Rompe ao mundo a entranha,
Ao fundo deste mundo acima,
Onde ele chegou, fugacíssimo!
Todo, sim, teu grito, sim.
Porém tua voz não quero.
PEDRO SALINAS
TRAD. ERIC PONTY

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