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sábado, maio 23, 2015

As cidades incivis – Éric Ponty



                               A urbe de é ajeitada de duas meias orbes. Na elementar, deparar a grande colina de aclives vertiginosas, raios formados por correntes, um batel com cabinas giratórias, a cúpula enlaçados no meio. A segunda meia orbe é de pedra e mármore e cimento, com o banco, as fábricas, os palácios, o matadouro, a escola e tudo que resta inclusive a floresta. Uma das meias urbes é adsorve, a diversa é efêmera e, quando completa a sua ocasião, é partida, desmontada e desvirtuada conquanto, demorada para os chãos inúteis de outra meia urbe.
                                 Igualmente, todos os anos aborda o dia em que os amassa-barros apartam os frontões de mármore, desabam os muros de pedra, os pilares de cimento, desmonta o secretaria, o edifício majestoso, as plataformas, a depuraria de petróleo, o hospital, transporta para seguir de pracinha em pracinha o percurso de todos os anos, e começa-se a contar quantos meses, quantos dias se deverão esperar até que a caravana retorne e a vida inteira recomece.
Eric Ponty

A urbe e as honras funerárias do arquiteto - Éric Ponty

               Os outros estudiosos advertem a respeito de carestias, concussões, conjuras a Pierre Chardin; ou então me distinguem lavras de pergaminhos de tons turquesa novamente descoberta, proposto com vantajosas descrições nas peles, recomendadas de sortimento de rolos adamascados. Pierre Chardin retornou de países também afastados e tudo o que tem a pronunciar são os aforismos que acertam a quem veste da brisa noturna na porta do claustro. No seu imo Pierre Chardin indagasse de para que convém, então, percorrer com tanta frequência? 
             É noite, estão sentados nas escadarias, inspirados pelas raias dum pouco de aragem. Quaisquer pais que palavras evoquem será visto por um observatório, apesar de que no lugar da morada apenas exista uma aldeia de e a brisa acarrete um cheiro de estuário lamacento.
           Para Chardin seu olhar a de quem esta abstrata e concentra, acolhe. Mas e o doutro atravessa arquipélagos, estepes, grilhetas de cordilheiras. Seria melhor nem sair de perto de Chardin.

             Todos alcançavam que, quando Pierre Chardin debatia, era para acompanhar mais perfeito o fio de sua arguição; e que as seus contragolpes e contradições deparavam espaço num preleção que advinha por cômputo próprio na cabeça de Chardin. Ou consistir em, entre eles não havia diferem se demandas e palavras-chaves eram proclamadas em alta voz ou se cada continuava a meditar em silencio. De acontecimento, jaziam silenciosos, os olhos semicerrados, calhados em travesseiros, ferindo nas contexturas, esbraseando longos cachimbos de âmbar.
        No imo arquitetavam contrapor que, quão mais se arrastava em adjacências incógnitas de urbes longínquas, mais perfeito envolvia as outras urbes que havia atravessado para chegar até a presença daquele filosofo francês, e reconstituía as etapas de suas excursões, e estudava a aceitar o transporto de onde havia zarpado, e os lugares familiares de seu viço, e os adjacências de habitação, duma pracinha em que corriam quando um dia foram meninos com ilusões de imortalidades e de esperanças. 
Éric Ponty

sexta-feira, janeiro 16, 2015

ERIC PONTY, O ARTESÃO DO CAOS - Por Ivo Barroso

Você sabe o que é moinheira ou gaita galega? Não, pois o autor destes versos sabe e muito bem, já que põe o icto obrigatório na quarta sílaba, com a certeza de quem percorreu todas as possibilidades do decassílabo. Bom, isto você sabe o que é, não?, pois saiba que o Eric em seus poemas praticou tanto o sáfico (com ictos na 4ª. e 8ª. sílabas), quanto o heroico (apenas na sexta) e o pentâmetro iâmbico (nas sílabas pares). Pois ele é um jogral do verso, conhece e executa todas as piruetas, firulas e dislexias da métrica, e sua poesia (seu oceano poético por assim dizer) é um mar (isto mesmo!) de exercícios, buscas, tentativas, escorregões, equilibrismos na arte de fazer versos. No que respeita à estrofe, esse aglomerado de versos em que se divide o poema, ele vai do dístico ou parelha, ao terceto ou terza rima, do quarteto ou quadra ao quinteto ou quintilha, do sexteto ou sextilha à sétima, oitava, nona ou décima, sem falar na liberdade de criação que lhe propicia o verso moderno. No clássico, navega tanto na terza rima dantesca, quanto na oitava camoniana ou na nona spenseriana, em que os oito primeiros versos são de dez sílabas e o nono vem com doze. Além de sua intimidade com o decassílabo e suas inúmeras possibilidades, ele não se intimida com o dodecassílabo (verso de doze sílabas) e pratica tanto a sua especificidade, que é o alexandrino (verso de doze sílabas com cesura na sexta), quanto se exercita com facilidade pelo hendecassílabo, ou alexandrino espanhol,que é constituído por dois versos de seis sílabas sem cesura.

Se falarmos de rima, o leitor pode estar certo de que encontrará aqui todo o tipo delas: agudas, graves ou esdrúxulas, toantes, consoantes, consoantes-suficientes ou opulentas, perfeitas e imperfeitas, continuadas, emparelhadas, alternadas, cruzadas, intercaladas, opostas, remotas, misturadas, encadeadas, entrelaçadas, internas, leoninas, quadradas, equívocas, em mosaico ou ritornelo, sem falar nas visuais ou auditivas, e passando batido pelas possibilidades da aliteração.  Se quisermos falar de estilos e escolas, Eric é um bom exemplo quanto à sua diversidade. Ele praticou tanto o romantismo quanto o parnasianismo e o indianismo e tanto o simbolismo quanto o naturalismo. Fez de suas influências -- desde os nossos primeiros românticos, tipo Casimiro, aos mais avançados representantes da poesia científico, tipo Augusto dos Anjos -- um cadinho para as suas próprias elucubrações. Entrou feio e forte na poesia moderna e explorou todos os seus redutos, inclusive a práxis, parando (cautelosa e inteligentemente) no concretismo, certo que dali não sairia grande coisa.

Poesia épica, elegíaca, alegórica, epitalâmica, estrambótica – desenterrem palavras e conceitos por mais esdrúxulos que sejam e constatem que o Eric andou sondando, experimentando, tirando uma onda com eles. De modo que temos aqui sua chamada obra completa (um temperamento criador como o dele jamais completa sua obra, está sempre fazendo ou refazendo alguma coisa), em que praticamente tudo o que se poderia imaginar em possibilidades poéticas foi devidamente visitado.

É claro que, dotado de tantas habilidades, tocando tantos instrumentos, dispondo de toda essa parafernália de recursos e experimentos, a poesia de Eric não é para qualquer um, diria mesmo tratar-se de uma poesia invulgar, para confrades herméticos, uma poesia que nunca será recitada, premiada, e até mesmo editada. O público de Eric ainda está por vir e virá talvez um dia quando o livro já tenha desaparecido e a própria noção de poesia se tornado uma vaga lembrança. Mas para nós que ainda estamos aqui ela é um butim, uma arca a ser aberta e na qual se pode encontrar de tudo, desde pepitas a duríssimos fragmentos de quartzo. Tal poesia certamente não poderia expressar-se em linguagem comum, habitual, compreensível. Ela parece escrita em outra língua, uma língua que lembra a nossa como o catalão lembra o português, mas que exige do leitor uma reformulação, um trabalho de síntese, quase uma tradução interlingual. Eric não diz, sugere. Não significa, propõe enigmas. Lê-lo é um trabalho de recomposição poética em que o leitor se vê forçado a admitir que existe uma outra linguagem por trás de nosso idioma convencional.

Ivo Barroso (Tradutor da obra Completa de Arthur Rimbaud.Organizador da obra Completa de Charles Baudelaire)

quinta-feira, novembro 28, 2013

Duo Santoro interpreta compositores do Prelúdio 21, neste sábado, 30, no CCJF

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Duo Santoro
No próximo sábado, dia 30 de novembro, às 15h, o grupo de compositores Prelúdio 21 vai receber o Duo Santoro no palco do Centro Cultural da Justiça Federal, no Centro. Os gêmeos violoncelistas – Paulo e Ricardo Santoro -  farão suas leituras para obras de Sergio Roberto de Oliveira, J.Orlando Alves, Neder Nassaro, Alexandre Schubert, Caio Senna e Marcos Lucas. No mês dedicado à poesia, serão apresentados também recitais de textos de Manoel de Barros, Manoela Rónai, Carpinejar, João de Arimateia de Melo, Éric Ponty e Saint-John Perse.

O Prelúdio 21 congrega compositores de diferentes tendências, unidos não em torno de diretrizes estéticas, mas sim visando tornar a música contemporânea mais difundida. Entre os espaços nos quais vêm ocorrendo os concertos do grupo, estão incluídos Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Sala Cecília Meireles, Centro Cultural Telemar (Oi Futuro)Sala Villa-LobosMuseu da República,Salão Dourado do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, entre outros. Desde 2008, o grupo realiza sua série de concertos no Teatro doCentro Cultural Justiça Federal.

SERVIÇO:
Série Prelúdio 21 – Música do Presente –30/11, sábado, 15h
Intérprete convidado – Duo Santoro
Centro Cultural Justiça Federal – Teatro
Av. Rio Branco, 241 – Centro, Rio de Janeiro / RJ. CEP 20040-009
Tel. (21) 3261-2550
Entrada Franca
Programa:
  • Sergio Roberto de Oliveira – Ao Mar
  • Orlando Alves – Intermitências III
  • Neder Nassaro – Pêndulo
  • Alexandre Schubert – Duo
  • Caio Senna – Variações
  • Marcos Lucas – “Che gli uccelli nel cielo

terça-feira, setembro 17, 2013

O pássaro tristeza crepúsculo breu - Eric Ponty



O pássaro tristeza crepúsculo breu,
não vê paisagem só que conclama almas humanas,
sozinhas pendem flor fez cacto está arado,
é são gritos inverno traduz melodia.

Na serra velha que há são dos cânticos prados,
enganosa da terra erra pelo horizonte,
às sombras nada jus na clemencia das tardes,
canto olvidado luz que descente do prado.

O Sempre novo do astro entreve qualidade,
clamor apaziguado sobrevém do pássaro,
murmurando no campo escoa última chuva.

Assim vão tempos são aclamados pela árvore,
furtiva se faz sina entrevê marcas campo,
canção surge assovio proclama a chama voz.

II
Ao desfazer a luz brilho transcende,
retorno das ruínas cegas sol,
são chispas dos cavalos ofertados
esperança que pulsa da montanha.

Angústia carregamos nos louvados,
sobre montanhas gritos liberdade,
apanágio da glória nos calamos,
sobre rumor do dia foi sonegado.

Levamos cicatrizes pelos ombros,
carpindo aos olhos mágicos da luz
tal crianças largadas que no campo.

Surdos ventania cegos horizonte,
a manhã clara abril desfoca fonte
renascida do breu se aflora serra.
Eric Ponty

segunda-feira, setembro 16, 2013

O Pássaro para observar o longínquo



O Pássaro para observar o longínquo,
a mão que desnuda-se o solo vê chão,
tocado nas nuvens que vão dispersas
setembro  tabula dos homens que partem.

Canção nasce prado no som melodia,
nascer  é mistério pascer  despe nu,
tristeza resume dolente do grito,
o verde do prado noturno silente.

Tal ave faz branca do céu do mistério,
ruído  do campo se traduz coisas
silente silêncio dormir dentre serras.

A fonte cristal no passeio faz urgir,
estrela caída vem céu passa serra,
menino correr se despede da agrura.
Éric Ponty

quarta-feira, janeiro 09, 2013

Réquiem em fuga em Sol maior para Gonçalves Dias


Introduzione: Adagio molto

Suas naus que cediças cobertas de glória,
Os pródigos nadam navios com finória,
que meigos se fundem à voz do marmor:
São todos tão tíbios, certeiros contentes!
Sua marca lá toa na boca dos crentes,
junção de prodígios, de fúria e louvor!

No feito das lápides marmo verdores,
herdado das ondas — cobertos de ardores,
volteiam-se nos tetos d'altiva ilusão;
São muitos navios, que dos ânimos fortes,
Temíveis à pedra, que em densos dos nortes
Espantam-nos navios à imensa ilusão.

Nos quartos vizinhos, silentes, sem brio,
que crentes quebrando, lançando sombrio,
Incenso aspiraram em liras que traz
louvores das terras que os fortes descendem,
vultosos tributos herdados dependem,
das naus certeiras suspeitas que jaz.

No centro da tábua se estende certeiro,
adorna se aduna o conspícuo carneiro,
Do limbo penhora, dos lodos mais vis:
Os corpos deitados praticam na aurora,
E os jovens inquietos, restando penhora,
Derramam-se em choro dum dia infeliz.

Por certo — ninguém diz: pavor lhe é ignoto,
Seu chefe não diz: — que de um mar que revolto
Precinte por certo — da tábua tão frágil;
Assim lá na terra do extrato mundano
formavam distinto do vil mais humano
que formas perfeitas do nobre de ardil.

Acaso da terra padeceu parceiro,
Nos vãos dos carneiros: — na extensa palmeira
Assola-se é certo, tiveram missão;
Convidam a gente dos nautas credores,
Silentes se incumbem do acaso das flores,
são vários apreços da honrosa punção.

Conservam cabelos no brio das palmeiras,
Entesa-se a corpo beleza faceira,
Adorna-se o ventre com cenas gentis:
A lousa, entre as vaga, uma freira na beira,
nutrir-se memória, dobrando matiz,
murmuro do murmuro mar contradiz.

A Paz espaçosa a que cedo traz medo,
pascido do olhar densas sombras tão cedo,
alçada da agora da voz que silente,
pascia na terrestre da oculta vertente.

Palmeira tão calma, que pasce na glória,
no vento de humilde da voz Circe cria,
nas vagas do monte longínquo do pássaro,
nos tinham nas mágoas que d´águas tão raros.

Ó tempo de ensejos caídos dos rostos,
de negas gemidas noites dos gostos,
nublava na nuvem a fria à boca de hálito,
que crânios falantes em verves dos ritos.

Labuta da sina dos tempos minguados,
ninguém lhe tecia do rezado ousa lados,
erguiam-se das aves, do quê; diziam pedras;
trazer-lhes do santo do parvo de exedras.

E singram além das camoecas distâncias,
das gradas fortunas mar cobriam-lhe ânsias,
após, de tão frágil, que sombra à tez templo,
vertente que esmaga da folha do exemplo.

Lembranças dos vivos, dos grãos enchem gosto,
em tíbio do gesto que escrito cai postos,
se sabem sós selvas, que dores sem serpes,
estepes do oceano que correndo escarpes.

D´água que dos amplos do rio avisava,
sossego da calma na luz nego cava,
tremente que atrás homens flama trespassam,
eiras fadadas das frontes dão em passa.

Parques dos vividos dos céus luzes rés,
bradados do Carmo dos ingênuos das três,
de quem se sentou só nas vaga acéns postas,
bradada na curva da voz chora às costas.

Murmúrio chegam  sós palavras da lei,
sombrio que retorna na margem do rei,
chamar El Rei da raiz prima treva,
de quem o viver curvou verde à selva.

Estio que fez rio coragens dos pajens,
secada ribeira que abrange das margens,
o lume movido culmina dos serros,
memórias d´águas frementes dos erros.

A chispa relâmpago ao sol murmurar,
sussurro em sussurro em sussurro do mar,
murmúrio murmuro rumor do marulho 
candente da  chispa do raio de engulho.

Menuetto: Moderato e grazioso

Entre palmeiras, sabiá,
ser de tão simples gorjeia,
na tíbia terra envolve o dia
que pálidas aves passeiam,
donde decantam floreiam
lúgubres bosques já sem vida,
de ardores arderam lida,
das dores tíbios céus das flores
sustem-se na sua descaída,
em sombras das aves sofridas,
que em silente silêncio na eira,
muros de adobe da ramagem,
que olvidam na plumagem vista
ao lugar mais alto já crista.

Entre palmeiras, expõe céu,
às plumagens das nuvens véus,
supõe o gesto nítido léus,
é barulho das juntas ossos,
da vida carcomida fossos,
em crânios cravejados sós,
donde gorjeiam os vermes réus,
barulho porta cemitério,
bravio som pesado mistério,
das aves das sombras dos seus,
suprimida vida critérios
postados manhãs tíbias Deus,
expõe o diamante no luar,
sombra das nuvens soltas ar,
noturnos hábitos olvidam,
donde gorjeiam corujas dão
vozes aos sapos e dos grilos,
que passeiam dura terra filos,
donde longe garrido toa
em passos vorazes à toa,
que almas dos mais simples ressoa,
gestos firmes longe pessoas,
não gorjeiam mais como lá.

Em cismar, sozinho, à noite,
procuramos naufrágio açoite,
vozes gorjeiam surdos mar,
de suas lembranças pia luar,
enclausurados nós pascemos,
carregados em luto, temos,
olhar benigno duma freira,
apercebe-lhe nau sem eira,
afundar pétreo marmor mar.

Presto con fuoco

Venho presenciar esquiva,
veludo humílimo griva,
há crescer do marmor mar,
ânfora nau junto lar,
há de ser langor visão,
almas, entregue ilusão,
parto perfeito deságua,
na fonte do rumor d´agua,
densas sombras que se afogam,
naufragam imensos vão.

Ó jovem poeta que parte,
Musas silentes alardes,
há de nos conter à lágrima,
infinitas tumbas cima,
conduz à luz travessia
da dádiva anestesia,
quando certo dia ramagem
d´águas postaram plumagem,
já esquiva na luz amarga,
visão minha pasce alarga,
terá enfim sombra macia,
de cuja nau pétrea esguia
no marmor da lousa fria,
morre assistir findo dia.

Atravessa, ó Poeta, à vida
dos abismos sermos lida,
escuta estranho colher,
funda mais razão pascer,
cálido assopro desvão,
suave visita e sermão,
alegre corpo terrível
que mais viva ave sabiá,
vagas palmeiras entreabrem
terrível pasce à voz ave,
que não gorjeia à vista suave,
em sopro cálido anúncio,
tíbias garridas dobram fios;
deixem; deixem brônzeos sinos
imenso oficio brônzeos hinos.

Atravessa, ó Poeta, à lida,
sacrifício do naufrágio,
existência sem presságios,
pétreos marmos luz do Carmo,
fará enfim poema da vida.

Adagio

Não posso falar marmor,
Não posso dizer da lida.

VOLTA
Senhora, visão podeis
Diz marmor, ou que lida,
A ambos são frágeis vida:
Dizer — sim, mas não do Carmo;
Falar — não, mas não do fim.

OUTRAVOLTA
Senhora, visão é essa,
Ou que da nau sem-razão!
Que se eu vos indago — sim?
Objetais cá — ó perdão!

Senhora, isso é ilusão?
Oh! Que o é, mas não por fim;
Que quando vós falar — mim,
De um não quisera eu então!

Já nem sei que bem vos vira,
Nem que mais querer vos queira;
visão antes vossa que nossa,
perdão antes que meu que vossa.
Eric Ponty

sexta-feira, novembro 16, 2012

Os pergaminhos e a reminiscência - Éric Ponty

             Pierre Chardin encavalga longamente por textos emblemáticos que desvanecem numa escuma da aragem em seus marginalia; eis que assente o bel-prazer dum pergaminho escrito em texto latino, quiçá de Lucrécio, mas é incerto:

ventus enim quoque paulatim cum verberat et cum
acre fluit frigus, non privam quamque solemus
particulam venti sentire et frigoris eius,
sed magis unorsum, fierique perinde videmus
corpore tum plagas in nostro tam quam aliquae res
verberet atque sui det sensum corporis extra.
praeterea lapidem digito cum tundimus, ipsum
tangimus extremum saxi summumque colorem
nec sentimus eum tactu, verum magis ipsam
duritiem penitus saxi sentimus in alto.


           Finalmente, Pierre Chardin chega ao toste de uma estante mais alta donde as estantes têm prateleiras incrustadas de caracóis marítimos, donde os textos fabricados à perfeição dos violinos que perfazem melodias de W. Mozart, exibem efígies apócrifas, que fariam tremer às almas mais puras que se alçam ao Paradiso. Libertai-nos Senhor de vermos taís efígies impuras:
          Pierre Chardin está incerto entre dois pergaminhos sempre encontra um sexto, donde às brigas dos reis já se degeneram em lutas dadivosas entre as letras rubras esvanecidas.  Pierre Chardin pensava em todas essas coisas quando desejava um pergaminho. O Pergaminho, portanto, é textura de suas imaginações: com uma contenda. O pergaminho previsto o possuía; e quando se chega idade arremetida o espírito se esvanece. Nas estantes, há o murinho dos avelhantados pergaminhos que viram à juventude passar; mas, que ainda não foram prostrados pelos olhares embevecidos de Chardin.  Pierre está sentado em frente  deles. Os bel-prazeres dos pergaminhos agora são reminiscências como nesse poema de Fang Loh donde em sua narrativa poética esse se preocupa em honrar a reminiscência do Rei desvanecido:

No princípio da minha tranquilidade,
Dei vênia  em vigiar concepção,
como meu pai nesse relicário lado,
meus pés podem passar afiançados.

Borne foi que sua vida proclama,
O plano da sua grande mente;
Mas, como realizar esses objetivos
Não impetro, ainda de deparar.

Quando minhas potências mais terei alçado,
para chegar a sua grande altura,
meus passos jamais se desviaram
Ou para a esquerda ou para a direita.

Eu sou, mas uma criança pode ansiar
Guiemos o meu assento para reinar
ou ainda muitos problemas lidar
que ressoa inquietação ainda?

Excelente e poderoso Patriarca,
Possa ajudar teu filho agora dignai!
Com tua alta sabedoria me inspirar,
E sobre teu trono manter-me.

Tê-lo sempre perto, eu tentei,
Minha virtude é prova dessa verdade,
No tribunal, em casa, diante do meu olho,
Formato o teu sempre advir.
Éric Ponty