Pesquisar este blog

segunda-feira, dezembro 23, 2024

A VIAGEM - CHARLES BAUDELAIRE - TRAD. ERIC PONTY


Para Maxime du Camp


I
A uma criança que gosta de mapas e gravuras
O universo é o tamanho de seu imenso apetite.
Ah! Como vasto é o mundo à luz de uma lâmpada!
Nos olhos da memória, como o mundo é pequeno!


Numa manhã, partimos, nossas mentes acesas,
Nossas almas cheias de rancor gostos amargos,
E nós vamos seguindo o ritmo desta onda,
Acalmar nosso infinito sobre o finito dos mares:


Alguns, alegres fugir de uma pátria avara;
Outros, horror do local de nascer; dum pouco,
Astrólogos se afogaram olhos de uma mulher,
Algumas tirânicas Circe com cheiros graves.


Não ser transtornado em bestas, ficam ébrias
Com espaço, com luz e com céus ardentes;
O gelo que os mordeu, os sóis que os bronzeiam,
Devagar, apagando a mágoa dos beijos.


Mas certos viajantes são apenas aqueles que saem
Apenas a sair; corações claros, como balões,
Eles nunca se afastam de sua fatalidade
E sem saber por que eles sempre dizem: “Vamos!”


Aqueles cujos desejos têm um feitio das nuvens,
Quem, como novo novato, sonhar com canhão,
Sonhar com grande lasciva, mudança e estranha,
De quem nome que a mente humana nunca ajuizou.


II
Horror! Nós imitamos o topo e a bola,
Seu limite e sua valsa; mesmo em nosso sono
A curiosidade nos atormenta, nos rola,
Como dum anjo cruel que atingir os sóis.


Destino singular onde o escopo se move,
Não pode ser nenhum lugar em qualquer sítio!
Ao qual o homem, cuja espera nunca se cansa,
Está obrando como um louco a achar o resto!


Nossa alma é um mestre de três que busca a Icaria;
Uma voz ressoa sobre a ponte: “Tenha um olho atendo!”
De uma voz alta, ardente e selvagem, chorar:
“Amor ... glória ... sorte!” -Censura! É um bando!


Toda pequena ilha distinta pelo homem de guarda
O Eldorado que prometeu pelo Destino;
Imaginação prepara-se a sua orgia
Acha, mas um recife à luz do amanhecer.


O pobre amante de terras imaginárias!
Ele deve ser posto em ferros, jogado no mar,
Esse alcatrão ébrio, inventor das Américas,
De quem a miragem torna abismo mais amargo?


Assim, vagabundo velho vago pela lama
Sonhos com o nariz no ar de Édens intensos;
Seu olho encantado descobre uma Cápua
Onde quer que uma vela ilumine uma cabana.


III


Viajantes magníficos! Que histórias esplêndidas
Nós lemos nos seus olhos tão profundos quanto os mares!
Mostre-nos sua arca de suas ricas lembranças,
Essas joias admiráveis, feitas de éter e estrelas.


Desejamos viajar sem vapor e sem velas!
A alegrar de nosso tédio de nossas prisões,
Faça suas noções, condita em horizontes,
Passe por nossas mentes tesas como telas.
Diga-nos o que você viu.


IV
“Nós vimos estrelas
E ondas; também vimos resíduos areentos;
E, apesar de muitos choques e imprevistos
Desastres, muitas vezes nos afligimos, como estamos aqui.


A glória da luz solar sobre o mar tão púrpura,
A glória das cidades contra o pôr-do-sol,
Acama em nossos cernes um gosto preocupante
Mergulhar em um céu de cores sedutoras.


As urbes mais ricas, as melhores paisagens,
Nunca continham a misteriosa atração
Daqueles que modem a chance das nuvens
E o desejo sempre nos tornou dos mais ávidos!


– O prazer fortalecer de nosso desejo.
Desejo, árvore velha estercada por prazer,
Enquanto sua casca cresceu e endurece,
Seus ramos se esforçam a se aproximar do sol!


Tu Sempre crescerás, a árvore alta mais resistente
Do que o cipreste? – No entanto, temos cuidado
Reuniu alguns esboços a o seu álbum ganancioso,
Irmãos que acham amável tudo surge de longe!


Nós fomos tortos a os divos elefantinos;
Com Tronos repletos de joias que são luminosas;
Palácios opostos tanto esplendor igual
Fariam seus banqueiros sonharem com ruína;


E fantasias que intoxicam os olhos;
Mulheres cujos dentes e unhas são tingidos
E argutos bufos quem serpente acaricia “.


V


E então, e então que mais?


VI


“Ó mentes infantis!
Para não olvidar o mais importante,
Vimos em todos os lugares, sem buscá-lo,
Do pé ao topo duma escada fatal,


O espetáculo árduo do pecado imortal:
Mulher, escrava base, altiva e estúpida,
Adorando-se sem risos ou sem desgosto;
Homem, um tirano ganancioso, amargo, 


Um escravo do escravo, uma calha no esgoto;
O carrasco que sente alegria e o mártir que solta,
O festival que sabores e perfumes de sangue;
O veneno do poder que torna o déspota fraco,


E as pessoas que amam o seu chicote brutal;
De várias religiões iguais às nossas quais,
Todos subindo ao céu; na tua Santidade
Como um diletante se lavra em uma cama de pena,


Caçando carnal nas crinas e nas unhas;
Prantando a humanidade, ébria com o teu gênio,
E louco agora como era nos tempos antigos,
Chorando a Deus em sua luta de morte furiosa:


“Ó meu amigo, ó, meu senhor, que sejas condenado!”
Os amantes menos tolos e bons da Loucura,
Fugindo do grão rebanho que Destino dobrou,
Refugiados nessa imensidão que desse ópio!
– Esse é o aviso imutável de todo o mundo “.


VII


Amarga é a notícia que ganha de viajar!
O mundo, monótono e pequeno, de hoje,
Ontem, amanhã, sempre, nos mostra a nossa efígie:
Um oásis de horror num deserto deste tédio!


Deve um sair? Jazer? Se tu podes ficares, jaza;
Deixe, se tu deves. Um corre, outro se esconde
Para escapar do hostil um cauto e um fatal,
Tempo! Há, hélas! Aqueles vagam sem descanso,


Como dum judeu errante e como dos apóstolos,
A quem nada é regular, nem instrutor nem navio,
Para fugir desta reforma infame; e outros
Quem sabe como matá-lo sem deixar seus berços.


Quando afinal está com o pé na espinha
Podemos esperar e gritar: Nos Guiar!
Assim como em outras vezes ir-se à China,
Olhos fixos no mar aberto, velos ao vento,


Devemos embarcar no mar destas trevas
Com cerne contente de um jovem viajante.
Tu ouves aquelas palavras atraentes e tristes
Cantando: “Venha assim! Tu que desejas comer


O Lotus perfumado! É aqui que tu reúnes
Os frutos divinos aos quais seu cerne tem fome;
Venha ficar ébrio com a estranha doçura
Nesta tarde eterna? “


Pelo sotaque familiar, julgamos o espectro;
Nossos Piliades estendem os braços a nós.
“A renovar teu peito, mergulhe no tua Electra!”
Gritar cujos joelhos nos beijamos outros dias.


VIII


Morte, velho capitão, é hora! Aportar vamos!
Este país nos cansa, ó Morte! Vamos nos arrumar!
Embora o mar e o céu sejam negros como tinta,
Nossos cernes que tu julgas estão cheios de luz!


Vazar teu veneno a que possas nos refrescar!
Fogo arder cabeças feroz, ânsia afundar
Funduras do abismo, Céu ou Averno, isso importa?
Para os imos do Ignoto a achar algo novo! “

CHARLES BAUDELAIRE - TRAD. Eric Ponty

Nenhum comentário: