Á Gabriella Tirado
I
Desejamos ver mais bela abunde,Para que a beleza em flor padeça,
Pois até o fruto pródigo sucumba,
Sendo justo que um retorno suceda.
E, porém, sendo ti lhe mandam formosos,
E ao ser teu alimento de tua chama,
Sombras da fome ali donde há de tudo,
E Tu serias tua própria presa maturada.
Tu que hoje adornas teu encanto ao mundo,
E anuncias sem igual a primavera,
Mesquinhas ao vigor dessa tua pétala.
E ao não gastar derrotas tuas reservas,
E tenha piedades e não deixes que tua gula,
Se apartas o pão do mundo com tua porta.
lI -
Mil vezes, ó temor, doce guerreira,Com vossos olhos, paz, ao oferecido,
O coração, mas não és comparecido,
Não olhes tão baixo forma altaneira.
E se algo, de outra mulher, pois te zela,
Se débil esperança, há consentido,
Desdenha os que haveis, de tão dito,
E meu não serás custo fora dela.
Mas se não ajudeis, se o que aguarda,
Em seu exílio infeliz, não saberá, arda,
Só estar, nem acudir, se outra a chama.
Mas se não ajudeis, se o que aguarda,
Em seu exílio infeliz, não saberá, arda,
Só estar, nem acudir, se outra a chama.
Pois que curso natural não dizer, chama,
Se grave culpa daqueles que teriam,
É mui mais de vós, Ver, pois, mui a ama.
III
Se grave culpa daqueles que teriam,
É mui mais de vós, Ver, pois, mui a ama.
III
Existem animais de tão ferozes,
Que até do sol olhares se desviam,
Outros com augusta luz inclinam,
Basta à noite sair veem velozes.
E outros cujo desejo louco aguarda,
Gozar com o fogo porque nos queima,
Se outro atributo houver, incendeia,
A minha é: Pobre de mim, Fileira.
Não sou tão forte que essa luz resista,
Desta mulher e não dos temerários,
Lugares abrigados: Numa da tarde.
Mas com olhares enfermos, chorosos,
Olhá-la é meu destino senão fardo,
Senão seguirei atrás daquilo que arde.
IV
A verde rama, viçoso do ramo,
Sobre o pano lacrimejante trono,
Teu velo formoso vestido sol,
Teus cabelos solares siderais.
Sobre o pano lacrimejante trono,
Teu velo formoso vestido sol,
Teus cabelos solares siderais.
Ela vibra, e sua ampla ascensão,
Lançar uma sombra sobre Todos prados,
As grandes aves de púrpura e douro,
Daquelas pedras baterem nos altares.
Aquele semblante era semelhante,
Sobre o pano lacrimejante trono,
Teu velo formoso vestido sol.
Querida em cujos sois, estais, gentil,
Obra que não saberei polir por lima,
E por ela vai servil, vai preparando.
V
Me posta envergonhar o está sendo,
Por mim vossa lindeza posta em rima,
Pois a nenhuma tive tanta estima,
Deste que vi vossos buços primeiro.
Mas esta que excede as minhas forças,
Obra que não saberei polir por lima,
E por ela excede todas minhas forças,
Por ela o este gênio se desvenda.
Pois que eu ascender pode eu alto,
De meu peito não posso um suspiro,
Fechado ao laborar está só e sendo.
Me pus a escrever versos de menino,
Mas a pluma, a mão, laço, e o talento,
Desenho, o que haveis foi me querido.
V
Se o fogo com fogo não extingue, chama,
Não há chuva cujo rio tenha secado,
Pois por igual por igual há ajudado,
E o pequeno ao grande é aquecido.
Amor- que nos corpos aquecidos,
Que governa nossos pensamentos,
Que fazeis assim tão desajustado,
Com mais querer ele se não acresce.
Talvez venha igual rio de uma altura,
Desde muito alto seu contorno apura,
Qual raio de sol quando olha se cega.
O desejo que consigo não aconselha,
Em seu objeto extremado vai ceder,
Ao frear por demais se incendeia n´alma.
VI
Como te quero? Deixa-me contar as falas.
Te quero fundo e fundura e louvores
A que a chamas chegou prantos céus buscavas
estar, benção ideal, partindo a todos.
Eu te quero ao nível das possiblidades
Tão plenas, seja ao sol ou luz desejo,
existência amo infindo quem luta pela
Justiça; chamas te quero sem ráfides.
Te quero com a paixão supunha em plena
Na flor; com a confiança de menino.
De louvor te quero às vezes confuso.
Sê, quando perde, a mais se estima.
Quero rindo e nos prantos. E até cofundo
A na sorte te quero, se Deus ensina.
VII
Estes rosas recolhidos jardim
Que me davas no verão, na estadia,
Podiam, na escura estadia interna,
com sol ou chuva ter nascida em mim.
Em louvor deste amor toma as caricias,
maneira modo aqui desabrocharam,
Da existência provindo, e acompanharam,
cores frias ou quentes. Estão providas.
De ervas amenas, cardos de prantos,
De que te destroço. Juntas também
Rosas divinas. Dá-lhes passadio.
Bom igual eu dou às rosas que me dão,
Que a flor persistiu ao teu olhar atento.
Das manhãs, te lembra, eu sou estadia.
VIII
Serás tens o poder, a festa, um meio
Observa-lhe por trás da emoção que eu falo
(É das águas da chuva a cor difusa)
E converte alma ao posto que, a passeio,
Assiste pálido ao percorrer vida...
Como dizer notar com fé e louvor,
Na plena alma em sacerdócio estupor,
Paciência de uma angelical guarida.
No pleno céu – nem pecado nem Eva
Nem justiça de Deus nem sorte perto,
Nada há em todos a visão condena.
Nada que me cantas em desacerto
Existir te repele... louvor pleno
Converter gratidão ao além já feito.
IX
Quem me teve louvor sou grisa. A todos
Devolvo louvor gratidão. E o parto
A quem às flamas condição um laço
Deus para ouvir desta emoção os prantos,
Antes de falhar à distância a seu ofício
No tribunal ou no júri. Tu, que vivendo
Minha voz a louvar-se e eu soluçando,
Teu instrumento fardo em silêncio,
Da flor celeste vindo para a colhida
Perspectiva digo em pranto e apuro,
Me instrui a ensilar-te. A mim aflito
Dar mais pedidos a esta alma que apuro,
Que a ela dê a chama que não trasmuda:
O louvor fica, e a vida céu distante...
X
Mais de sonetos cantiga aninha,
Mais do éclogas, capítulos, canções.
Tu, amada ou rara musa, aqui não pões
Nem líquidos cristais nem andorinhas.
Depostos madrigais não escrevinham
Aqui, onde há versinhos sem bridões,
Que em flor ou lábios lépidos dispõem-se
versos confeitos dentro da modinha.
Gente aqui há que amada e que é trazida,
De flores e conselhos há fatal
E pela flor muita alma já esvaída,
Ama-se aqui com prece sem igual,
Alhures nunca amada produzida
Por graça a jerarquia oriental.
XI
Para dizer tua roupa, douro mudou-se
Musa, pelo objeto compelido,
E em mais contos bestiais, dizer no olvido
Face divindade, transformou-se.
Língua perdeu também aquele doce
descanso a um Deus semente consentido,
Por seu muito orar foi bem punido,
Qual peixe que na rede embaraçou-se.
Este que orais mirais, em contradita,
Amando, sem pródigo , a vida inteira
Dourar, a flor nem rosa se habilita.
Nunca mais nesta urbe se repita.
Pois não sabes, meu verso, que é malsão
Fazer nascente e flor da própria mão?
XII
Aqui toda relíquia se aninha —
Cantigas horrendas, flores nascentes,
Aqui vereis amar alegremente
O seu ofício muita bela musa.
Na frente, atrás, em valoroso verso,
E a língua a ir de boca a boca, contente
— Padeço mais piedade fortemente
Que os defeitos Madames ou Margaridas.
Que notável dizer não tereis tido
De ver tua flor ou os lábios nessa cantiga,
Maneiras incomuns de ser amada.
E desse o verso de Ador se madura,
(O mesmo que a espirrar nos apresenta),
Com esse Ador que os versos se conjuram.
ERIC PONTY
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