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quinta-feira, outubro 01, 2020

CINQUENTA MIL DE MILHARES DE POEMAS - RAYMOND QUENEAU - TODOS EXEMPLOS NUM DOS MOLDES - ERIC PONTY

  (SONETOS ALEXANDRINOS DE ERIC PONTY NUM DOS MOLDES)

PROCESSO INFINITO

"Cem bilhões de poemas" é certamente o livro de poemas mais impressionante de que já tomamos conhecimento. Publicado em 1961 por Raymond Queneau - criador do movimento Oulipo - a obra concretiza de certa forma a ideia da obra Le livre, como a chamou Mallarmé. O livro idealizado, não teria início e fim, configurando um projeto de livro infinito e coletivo que somente tornou-se concreto a partir da publicação de documentações, ensaios e anotações de Mallarmé, reunidas e publicadas em 1897, com o nome de Divagations. "Le livre privilegiava, o “estatuto de virtualidade”, “ensaiando o esmaecimento da voz autoral” e principiando uma reflexão, hoje bastante discutida, sobre a “instância do leitor, que perde a sua função tradicional de intérprete” (OLINTO, p.55). Raymond Queneau , em 1984, retoma o projeto idealizado por Mallarmé com sua “Máquina poética”. 
 
Queneau propõe a “transformação do ato poético em mecanismo seletivo” que filtra e seleciona fragmentos do contexto original, reinserindo-os em nova configuração, na qual os versos poéticos poderiam ser combinados e recombinados pelo leitor que, autônomo, tem a oportunidade de escolher a construção e as “rotas” de leitura que pretende empreender. Queneau, no “manual para usuários”, explica:“ Esta pequena obra [...] permite a qualquer um criar, se quiser, cem bilhões de sonetos [...]. cada verso, em número de 10, pode ser articulado com outros 10 versos distintos: haverá portanto 100 combinações distintas dos dois versos iniciais; se você quiser acrescentar um terceiro haverá 100, e para os primeiros sonetos completos de 14 versos cada um, teremos, assim, o resultado antes mencionado [...]. ou seja, cem bilhões de sonetos ”. (QUENEAU, apud OLINTO, 2002, p. 67). 
 
O texto acima, com algumas adaptações, foi extraído de "A Literatura Como Precursora dos ‘Novos Modos’ de Ler e de Escrever" de Angela Francisca Mendez de Oliveira PPGL-Uniritter - Bolsista CAPES

O REI DA PAMPA FAZ-SE RETORNAR TUA CHEMISSE
FALAS CARNAIS CAIXAS TRESANDA DESCONTO DESSE
POR ALOJAR-SE SECOS SEUS CORNOS DOS TOUROS
E FIRMENTE DO MESMO COZIMENTO DOS COUROS

O CAVALO PARTENON SE ENERVA SOBRE TEU CRESPO
CLIMA LONDRINO ONDE BRINCAR SUA BELEZA ARCOS
EU TREMO POBREZA ÀS BORDAS DO TAMISA CRESPO
QUANDO GRANIZO AO FIM MARTE METRALHA BARCOS

SE PODE PURO PEIXE DOURO ONDE MOLVA TAMBORIL
S´ HÁ SUJO TUBARÃO ONDE FUMA CHALOTA ABRIL
QUE UM ONDE TORNA OU PORTO ENXUGAR GRÃO

DO GANGE AO MALABAR LORD INGLÊS DE ZOZOTTE
Q´UM CHANDERNAGOR BOSTA PROVÉM SENTIR BOTE
DUM CORONEL SE ESPONJA UM BRASÃO TROUXE MÃO

RAYMOND QUENEAU

O REI DO SAMBA FAZ-SE RETORNAR TUA CHEMISSE
TOQUES CARNAIS CAIXAS TRESANDA A BANDA DESSE
POR ALOJAR-SE SECOS SEUS CORNOS DOS TOUROS
SENDO FIRMENTE MESMO COZIMENTO DOS DOUROS

O CAVALO PARTENON SE ENERVA SOBRE TEU CRESPO
CLIMA LONDRINO ONDE BRINCA TUA BELEZA ARCAS
TREMURA POBREZA ÀS MARGENS DO TAMISA CRESPO
QUANDO GRANIZO FINAL MARTE METRALHA BARCOS

SE PODE PURO PEIXE DOURO ONDE MOLVA TAMBORIL
S´ HÁ SUJO TUBARÃO ONDE TOMBA CHALOTA ABRIL
FEZ UM ONDE TORNA OU PONTO EXGUGAR PÃO

DO GANGE AO MALABAR LORD INGLÊS DE ZOZOTTE
Q´UM CHANDERNAGOR BOSTA VÉM A SENTIR BOTE
DUM CORONEL SE ESPONJA UM BRASÃO TROUXE CHÃO

RAYMOND QUENEAU

O REI DO DRAMA FAZ-SE RETORNAR TUA CHEMISSE 
TOQUES CARNAIS CAIXAS TRESANDA A BANDA DESSE 
POR ALOJAR-SE SECOS SEUS CORNOS DOS TOUROS 
SENDO FERMENTE MESMO COZIMENTO DOS DOUROS
 
O CAVALO PÁRTENON SE ENERVA SOBRE TEU CRESPO 
CLIMA LONDRINO ONDE TRINCA TUA ALTEZA ARCAS 
TREMULAM POBREZA ÀS MARGENS DO TAMISA CRESPO 
QUANDO GRANIZO FINAL MARTE METRALHA BARCOS 
 
SE PODE PURO PEIXE DOURO ONDE MOLVA TAMBORIL 
S´ HÁ SUJO TUBARÃO ONDE TOMBA CHALOTA ABRIL 
FEZ UM ONDE TORNA OU PONTO ENXUGAR SÃO 
 
DO GANGE AO MALABAR LORD INGLÊS DE ZOZOTTE 
Q´UM CHANDERNAGOR BOSTA VÊM A SENTIR FORTE 
DUM CORONEL SE ESPONJA UM BRASÃO TROUXE CHÃO

RAYMOND QUENEAU
 

O REI TRÁGICO FAZ-SE RETORNAR TUA CHEMISSE

TOQUES CARNAIS FAIXAS TRESANDA A FONTE FOSSE  
POR ALOJAR-SE SECOS SEUS CORNOS DOS TOUROS  
SENDO FERMENTE QUAL SI COZIMENTO DOS DOUROS  

O CAVALO PÁRTENON SE ENERVA SOBRE TEU CRESPO

CLIMA LONDRINO ONDE TRINCA TUA ALTEZA ARCAS  
TREMULAM POBREZA ÀS MARGENS DO TAMISA CRESPA  
QUANDO PEDRISCO FINAL MARTE METRALHA BARCOS  

SE PODE PURO PEIXE DOURO ONDE MOLVA TAMBORIL

S´ HÁ SUJO ESQUALO ONDE TOMBA CHALOTA ABRIL  
FEZ UM ONDE DORNA OU PONTO ENXUGAR DÃO  

DO GANGE AO MALABAR LORD INGLÊS DE ZOZOTTE

Q´UM CHANDERNAGOR BOSTA VEM A SENTIR FORTE  
Q´UM CORONEL SE ESPONJA UM BRASÃO TROUXE CHÃO

RAYMOND QUENEAU

REI FANTÁSTICO FAZ-SE RETORNAR TUA CHEMISSE

TROCAR CARNAIS MANTRAS TRESANDOS A FRONTE FOSSE  
SE ALOJAR-SE PREZOS SEUS CORNOS DOS LOUROS  
SENDO FERMENTE QUAL SI COZER ENTE DOS DOUROS  

O CAVALO PÁRTENON SE FAZ TREVA SOBRE TEU CRESPO

CLIMA LONDRINO ONDE VINGA TUA ALTEZA FARPAS  
TREMULAM A POBREZA ORIGENS DO TAMISA CRESPA  
QUANDO PEDRISCO FINAL MARTE DÁ SINAL BARCOS  

SE PODE PURO FEIXE DOURO ONDE MOLVA TAMBORIL

S´ HÁ SUJO ESQUALO ONDE TOMBA CHALOTA ABRIL  
FAZ UM SÍTIO TORNA OU LUGAR ENXUGAR SÃO  

AO GANGE AO MALABAR LORD INGLÊS DE ZOZOTTE

Q´UM CHANDERNAGOR BOSTA VEM A SENTIR SORTE  
Q´UM CORONEL SE ESPONSA UM BRASÃO TRAZ CONTRAMÃO

RAYMOND QUENEAU

REI FÃ ESQUILO FAZ-SE RECUAR CENA TUA CHEMISSE

FOCAR CARNAIS SANTAS TRESANDAS AO MONTE FOSSE  
SE ALOJAR-SE PRESAS SEUS CORNOS DOS MOUROS  
SER AO FERMENTE QUAL SI COZER FRENTE DOS DOUROS

O CAVALO PÁRTENON FAZ LEVAR SOBRE FRESCURA

CLIMA LONDRINO ONDE VIGIA TUA ALTEZA FARPAS  
TREMULAM A CRUEZA ORIGENS DO TAMISA APURA  
QUANDO PEDRISCO FINAL MARTE DÁ SINAL BARCOS

SE PODE PURA SURGIR DOURO ONDE MOLVA TAMBORIL

S´ HÁ PORCO ESQUALO ONDE TOMBRA CHALOTA ABRIL  
FEZ UM HINO TORNA OU CANCHA AO FUNDAR SIÃO  

AO GANGE AO MALABAR LORD INGLÊS DE ZOZOTTE

Q´UM CHANDERNAGOR CÓCO VEM A SENTIR NORTE  
Q´UM CORONEL ESPANCHA UM BRASÃO FAZ TAL SERMÃO

RAYMOND QUENEAU

 REI FÃ ESQUILO FAZ-SE RECUAR CENA TUA CHEMISSE
FOCAR CARNAIS SANTAS TRESANDAS AO MONTE FOSSE
SE ALOJAR-SE PRESAS SEUS CORNOS DOS MOUROS
SENDO FERMENTE QUAL SI COZER FRENTE DOS DOUROS

O AGRESSIVO PÁRTENON FAZ LEVAR SOBRE FRESCURA
CLIMA LONDRINO ONDE VIGIA TUA ALTEZA FARPAS
TREMULAM A CRUEZA ORIGENS DO TAMISA APURA
QUANDO PEDRISCO FINAL MARTE DÁ SINAL BARCOS

SE PODE PURA SURGIR DOURO ONDE MOLVA TAMBORIL
S´ HÁ PORCO ESQUALO ONDE ZOMBA CHALOTA ABRIL
FEZ UM HINO TORNA OU CONCHA AO FUNDAR GRÃO

AO GANGE AO MALABAR LORD INGLÊS DE ZOZOTTE
Q´UM CHANDERNAGOR CÓCO VEM A SENTIR MORTE
Q´UM CORONEL ESPANCHA UMA HONRA FAZER SERMÃO

RAYMOND QUENEAU
 O REI DA PAMPA FAZ-SE RETORNAR SUA CHEMISSE
FALAS CARNAIS CAIXAS TRESANDA DESCONTO DESSE
POR ALOJAR-SE SECOS SEUS CORNOS DOS TOUROS
E FIRMENTE DO MESMO COZIMENTO DOS COUROS

EU ME APOIO AINDA nesta HORA ESQUISITO AR
CAFONA DA PRADARIA AO AGITADAS FLÂMULAS VINHO
NOSSAS NAVES AO TARDAR FRIA NUAS SOBRE MARINHO
QUANDO POR NOS DISTRAIR PLANTIO NOSSO APOIO DAR

QUAIS POLOS ROSÁRIO FATUAIS DUM BELO TROTAR
AVENTURAS PIORES TEM QUEM PIQUE ESFREGAR
SE ÉBRIOS DO CHIMARRÃO TRAZIDO ARGENTINA

A AMÉRICA DO SUL PRODUZ SEUS EQUÍVOCOS
EXTANDAR ESPANHOL DAS LETRAS BARRO OCOS
SE O SINO FATUAL DO SOM DA TERLINTINTINA

RAYMOND QUENEAU
 O CAVALO PARTENON SE ENERVA SOBRE SEU CRESPO
DEPOIS LORD ELGIN NIGUÊNCIA SEU RESSEQUIR CORPO
O TURCO DA TUA ERA VADEA EM SUA CRISE DE SALSO
EU CANTO TUDO DO MESMO OUVIR MAIS TOCO FALSO

O CAVALO PARTENON SE ENERVA SOBRE SEU CRESPO
CLIMA LONDRINO ONDE BRINCAR SUA BELEZA ARCOS
EU TREMO POBREZA ÀS BORDAS DO TAMISA CRESPO
QUANDO GRANIZO AO FIM MARTE METRALHA BARCOS

A GRÉCIA DE PLATÃO AO CORPO SOBRE N´ESTÁ PONTO FÁTUO
PODE CONTAR AOS ESPÍRITOS AFIADOS TEU EXAUSTOR
QUANDO SOCRATES MORTO ESVAIR-SE DOR DUENDE

SUA ESCULTURA SE ILUSTRA EM AO FUNDO SEUS CASCOS
ONDE TRANSPORTA MARMO RESTA DESTROQUES PARCOS
S´EUROPA QUER SER EUROPA ACHE SEM DESTINO ENTE
RAYMOND QUENEAU
 

VENTO MARINHO BRETÃO TABACO CUSTA O PLUQUE
PRA O FIM AO FUNDO DO NARIZ ARCADO VEJA
SOBRE ANTIGOS BAÚS ESTA COISA SER CEREJA
ELE NÃO TEM LEI QUE UNA JOIA RAMAGEM DO PORQUE

FREQUENTE VÓS AMIGAS ILHAS DESSES FRISOS
DONDE VEM POR MILHARES FALHAM ENTORSE PISOS
NOSSOS PRANTOS EXCASSOS DESSES MONTES BENS
QUANDO UMA SURGI LONGE INCEDEIA ARBUSTOS RÉFENS

Se pode PURO PEIXE DOURO ONDE MOLVA TAMBORIL
S´ HÁ SUJO TUBARÃO ONDE FUMA CHALOTA ABRIL
QUE UM ONDE TORNA OU PORTO EXGUGA GRÃO

ENFIM OND´ALIENA TUDO ALAGOSTA DE CAMARRÃO
ONDE SE EXCUSA NEM BALEIA NEM FOCAS NÓS RIMOS
MAMÍFER´ESTE REI NÓS SOMOS SEUS PRIMOS

RAYMOND QUENEAU
AO SER CINQUENTA HORAS QUE ELE LANÇA marquise
POR CONSUMIR CHÁ POIS APETITES BOLOS COSTAS
O CHOFER INDIANA ATENTO A BRISA ANÁLISE
ELA SOPRAR BEM FORTE POR ACIMA ELES ABAS

Se pode ser bem surpreender por que planto gris
Quando se consome todo furor dos castelos
Um Ousado barão embolsa todas impostas cris
Quando vem bombeiros com suas grad´águas velos

Do gange ao malabar lord inglês de zozotte
Q´ um chandernagor bosta provém sentir Lote
Um coronel se esponja um brasão trouxe mão

Nascer certo não se longe treme encanto razão
eles d´índia tem mui sem isso dos pendeloques
ébri´squilo ou douro não dur´ alva mão
 RAYMOND QUENEAU
POETA,TRADUTOR,LIBRETISTA ERIC PONTY

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