Deixei-me Sparta logo aos oito anos,
levado fui por meus pais para Atenas,
são poucos estão entre os humanos
viveram horas hordas de tão plenas.
Pelo Amor e entre seus enganos,
Em vã ventura lutei em duras arenas,
E vejam na minha alma os danos,
Esses foram causados pelas Helenas.
Sendo que Delfos selou meu destino:
- E sendo que és nosso deste menino
que mesmo a um tempo vassalo e rei.
E sendo assim, sou em toda parte,
Em parte, em grego por Lima Duarte
Sou vertente, parte, São João del-Rei.
E já quando a relembrar me ponho,
São todos os dias da minha aurora,
E já que tudo me parece um sonho,
Que sendo sonhável voz até agora.
Das verdes folhas anos que já perfiz,
em lauda doce fiz quadra prefiro
E já pois nela fui viver feliz,
Foram-me meus anos de Casemiro.
- Que vai fazer
quando crescer?
Eu lhe respondia
Com muita graça,
- Tocar violão,
Beber cachaça.
Se só metade,
Que vivo do sonho;
dentro do peito
(Tão contentinho)
Faz tocar violão
O menininho.
Gostava minha vida de menino,
nasci em bela casa, fui bem cuidado
em cidade de ar delicado e fino,
entre povo bom, quase sem pecado.
E fui obediente, pouco latino,
Apesar de que não falte malvado
Ao afirmar este limaduardino,
De ter sido totalmente endiabrado.
A verdade é que fui quieto e sisudo,
De tal jeito que me julgaram mudo,
Mas bem sabia por que me calava:
E chegara tão recente de outra vida,
- Tão triste da vinda e da nova partida-
Que dupla saudade me sufocava.
E quando bem criança, vi Nossa Senhora,
Igualzinha assim como está altares;
Foi descendo ao céu como fina aurora
Fui perfumar terra sossegar os mares.
Não mais recordo do dia nem da hora,
Esqueci suas palavras singulares,
Só me lembro, como se fosse agora
Ter-me tomado colo ir pelos ares.
Compreendo serem comuns tais visões,
E que as crianças vivem de fantasia;
Minha dúvida é outra, não a supões.
Foi mentira, por que minhalma agita,
Dia, por que desde aquele longínquo
Sempre sonho com uma mulher bonita?
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