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domingo, setembro 13, 2020

GULLAR - NA PASSAGEM DOS NOVENTA ANOS - ERIC PONTY

Gullar,
Vou chama-lo só agora de Poeta
Porque se fez entre os mortos
Imortal
Sua voz retine
De nossas parcas conversas
Ao telefone
Ao ser condutor conduziu minha
Presa a minha garganta
Murmúrio que me amortalha
Murmúrio é apenas lamento
No derradeiro momento fazer-me
Grito
E quando suas mãos apagaram
Num quarto de hospital aí no Rio
Tal qual o Ivan
Porque se fizeram entre os mortos
Retumbam entre os sinos del-Rei
Agônicos
Mas um sino é um instrumento oco
Que retine em nossas consciências
No chão macio de São João del-Rei
No repique da Igreja Nossa Senhora do Pilar
Na antífona da igreja de São Francisco de Assis
Cujo conluio entre os mortos se fizeram
Cemitério de Nossa Senhora do Carmo,
Onde jaz silente estátua a pascer
Uma estátua gasta entre as outras
Ecoar no timbre solene da igreja de Nossa
Senhora do Carmo rígidos ecos
Extensão supérflua metáfora.

                                                                                                                    ERIC PONTY

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