Sê cordata, ó minha Dor, e fica-te mais serena.
Rezingavas a Tarde; eis que ela vem baixando:
Sobre os cidadãos um véu de almas se tenciona,
Alguns causando a desgosto, a paz a outros trazendo.
Enquanto das fatais desta afluência ignóbil,
Sob o açoite do Delícia, verdugo horrendo,
Contrições colhe à festança e ávida se punge,
Dá-me, ó Aflição, mão; vem por aqui, cruzando.
Raspas. Vem ver arcarem se os Anos calhados
Nas varandas do empíreo, em trajos antiquados;
Brotar das águas Saudade acolhedora;
O Sol que numa arqueada estertora se aninha,
Qual difuso sudário a arrojar no Oriente,
Escuta, ô prezada, a doce Noite vianda.
CHARLES BAUDELAIRE
TRAD. ERIC PONTY
Nenhum comentário:
Postar um comentário