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sexta-feira, maio 25, 2018

A CANÇÃO AO TIMOR LESTE - ERIC PONTY

    “Caro Eric:
  Por isso vos pedimos que faleis aos vossos amigos na nossa luta e no sofrimento
de nosso povo, que utilizeis a vossa palavra, os vossos poemas, a vossa escrita.”
Eduardo Massa/ Timorense udttimor@unitel-1.Unitel.net(U.D.T.)


1
Lá longe vejo bem arredio daqui,
parecem ser sombras tardas gaivotas,
sobrevoando azul desta imensidão,
algaravias em asas negras destes corvos.
Ainda bem remotos que lá além vejo.
Se dádiva emanada desta nau abrolhar
qual brumas havidas que deste retrato
ou
reluz do cavaleiro deste escudo
trazendo-lhe consigo o oculto destas marcas.
Ai de mim! Ai de mim! Ai de mim!! Ai de mim!

2
No instante a pradaria se encobriu o álgido
com longas cadeias sépia marca aldeias
com súplicas passantes dos consumidos,
recitam louca Ave Maria. Calando
Em uma ode natureza humana depara
tendo de si a ríspida hoste de alaridos
ficarem solitários. Das algaravias
com cá algum dia já foram prisioneiros.

Findando hoje outrora; nunca laureados,
em campos repousados dos mortos diários;
das pradarias difusas declives clivos,
com nosso tenro obscuro infausto breu.

3
Túrgida é a voz clamar
perfaz gemida desta tarde
exilada atinge o azul
mistura-se corrente azul
dos que navegam solitários.

Túrgida é a voz submersa
prisioneira dentro da torre
naufraga contra o silêncio.

4
Quando se tem do dolo na capitania
Porque lhe seja afeito ao afoito
Querer aquinhoar certos dos prazeres
Esta época de usura e de tratados...

Quando se tem do dolo na capitania
Porque lhe seja afeito ao afoito
Querer repartir certos destes gestos
Estes foram subtraídos por mesquinhos...

Quando se tem do dolo na capitania
Porque lhe seja afeito ao afoito
Sonegado no país da menos valia
pesando o valor que e se repensa...

Quando tem deste dolo à capitania
porque lhe seja afeito ao afoito
almejar-lhe ser Judas ou Pilatos
pedir-lhe de desculpas é um erro
É em certa forma de ser julgado.

5

Longe avisto dobrar dos anos defuntos,
Nas varandas do céu em trajes surrados,
fundo emerso contente desta lembrança
deste tempo estranho forma finita,
construindo-se lugar tridimensional.

Longe observo dobrar sinos nus,
filas aglomeram das ruas esperança,
vejo pessoas, trajes surrados frígidos,
destes olhos cristãos desta redenção,
seja definitiva emergente ode.

Passo padre à paisana destes conflitos,
recitar Agnus Dei sem da orficidade,
olhando própria alma sendo-lhe sôfrega,
Em varandas ao céu, em trajes surrados,
emergindo-se fundo alegre lembrança.

6

Eis vem lá do alongado prado daqui,
trazendo-lhe consigo velhas canções,
Não sei destes lhes falam, como lhe falam,
Mui algaravias narram desta tarde.

Ai de mim que me era deste tão puro!
Ai de mim que me era de tão alegre!
Ai de mim que só sei deste que não há,
Sendo coisas de mim estas coisas mim...
Eis vêm lá do alongado prado daqui,
trazendo-lhe consigo destes bastiões,
desta tarde abre-se deste demorar.

7

É prado a quem vive nada creu na vida.
É o pranto colossal, intérmino viajante.
insta-nos, nos colige, e nos contrasta
Nas velas desfraldar nos cinéreos portos.

É prado de quem vive nada creu na vida.
É o pranto colossal, infindo viajador;
Em pradarias locais clivos passeiam das naus,
ouvindo-se ais locais das terras ermas.

E velho carcomido soberbo viajante,
rebelde espírito relapso com tudo,
ressurge e brade e blasfeme da exaltação,
Partindo destas outras terras distantes.

8

Oceano, o mar sempre começando!
Ó recompensa após desbravamento!

Sereno admirar seja-lhe de Deus.
Sim! Amplo mar delírios doirados,
fera mantilha poro à tarde
quilíades ídolos sol por ti cruzam
seguindo o designo dos destinos.

Hidra integral, liberta esta cauda.
enviando cintilante manto difuso,
coroada onda viva se arrebatou cais,
Em submersa memória lânguida efígie.

Ó galardão após era arroteado!
Ó arielesca brisa, seio de prata!

9

Este sol, meu irmão, é da tarde.
esculpido de nossa resistência.
Indomável medusa deste mar
cobrindo a sua mantilha noturna.

O Sol é qual uma pedra grito horizonte!

10

Estou a minutar do fim do mundo. Tem de sabê-lo. É habitual as árvores estremecerem.
Adquirem folhas caídas troncos rijos por ficar a muito tempo, quiçá anterior, ou antes, do sucedido. Tantas nervuras não se conseguem imaginar. Mas quê? Não tem nada a ver a árvore, e, por isto nós dispersamos contrariados dentro das nossas consciências de festins.
A vida não poderia continuar sem vento? Tudo tem de estremecer um dia? Enquanto existir um timorense nas montanhas ou em qualquer parte do mundo, haverá alma reconheça-se fazendo lugar na sombra dos galhos.
Deste país foi nosso; não é de ninguém, você me pede, após tantos anos de silêncio. Neste país não se dá boa educação, e dá arrepios. Ignoramos às apropriadas regras, e quando de fato ocorre somos pegos. Nada vemos. O que?  Se importar observar.
Nada.
No entanto nos vibramos às folhas das árvores. Tantas nervuras não se conseguem imaginar. Mas quê? Estou a minutar do fim do mundo. Tem que sabê-lo. É comum as árvores comoverem-se.

11

Oiô- iê! Oliô-iô-iê!
Alguém se deparou já desta nau
deste rubro veleiro, negro mastro?
O capitão, homem deste infante,
sem descansar atento o convés.
Ui!- uiva o vento- Oiê!

Ui!- canta nestes cabos- Oiê!
Ui!- voa flecha, vibrante,
voa, e não navega mais!

O ruído do remete idas períodos!
Infante deparar-se pode um dia,
achar do arquipélago salvador!

Permita Deus encontre esta terra
destes os nautas partem reclusos,
do soberbo viajor carcomido,
do rebelde espírito relapso tudo,
surja, clame, blasfeme à fúria,
partindo outras terras distantes.
em velas desfraldar cinéreos portos.

Ui ! uiva o vento Oiê!
Ui! canta nos cabos Oiê!
Ui! voa qual flecha,
da alma imóvel está às boas horas!

12

Pai, a noite veio na alma é tão vil,
Tanta foi à tormenta e o degredo,
Resta hoje murmúrio tão hostil,
Do mar universal com suas naus.

Ó mar salgado sempre começado,
Após tanto lamento finda lágrimas
Cruzarmos quantas almas consentidas,
Quantos órfãos bradaram breu da escuma,
Das ninfas consumiram brancas tardes
Quanto aí se temperou mar universal.

Valeu da dor? Mas há vencedores
Abandonarmos prados destes clivos
Com lamentos, banidos presságios
Fosse do nosso mar universal.

Surge ao sol em mim que desta nau
Do pendão de que é nossa língua;
Cumpriu-se Mar, o Império corroeu.
Pai ainda falta assentar-se o Portugal!

13

Os nobres e os nautas distintos
Desta Ocidental praia lusitana,
Mui além dos foram de aldeias,
Cunharam-se das glosas memórias
Daqueles se sonharam do Império,
De África e de Ásia devastando.

Somos, um dos das Ilhas vão tornando
Forasteiro da terra lugar algum
Ser tão próprios daqueles criou-nos.

Esta pequena ilha habitamos
É toda esta terra, certo império
De todos os marouços navegamos
Partem da mesma alma e exílio.

14

O homem não fenece vegetal,
Destes braços inertes destes galhos,
Põem-se a ramificar fatalidade:

Mal se assenta já lhe trafegando.
Por isto lhe tramam caixote pinho,
Vegetal está prestes a abrolhar,
Temem se ramifique com a sorte,
Destes galhos poderiam o indivíduo.

Os sonhos poder-se-ia propagar?

Gestos? Homem está a morrer tão só,
Trancafiaram a língua alcunha geo.
Exportaram dos sonhos caravelas,
Alheios mundos curtidos dos coqueiros,
Palmeiras ventilantes mais uma nau,
Do mundo se fazendo permanente,
Não mundo que está a acontecer, roído...

15
Dedico estes mártires apócrifos
Recusaram-se ao próprio do destino,
A dizer-nos na em face de sua nau,
Dormidos sem trajes ou do lençol
Polpa terra escondida desta rubra.

Dedico a estes mártires apócrifos
Silêncios tais e angústias corroídas,
Destas almas em ícones cruzados
Navegaram lhe próprio adentro exílio,
Se fizer cruzadores desatinos.

Dedico a estes mártires apócrifos
Padecidos aos gritos timorenses
Dizer-nos luso fado deste fardo,
Auroras se esvaem de dentro negro.

Dedico a estes mártires apócrifos
Dos duzentos mil ossos cobrir solo,
Estas sombras errantes eram túrgidas
Dos se perguntarem nau do infante.
ERIC PONTY

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