Que se anuncia noite d´ alma uma aurora,
E essas páginas são desse hino
Cadências que ao ar dilata nas sombras.
Eu quisera escrever-lhe, do homem
Domando o rebelde, mesquinho idioma,
Com palavras que fossem há um tempo
Suspiros e risos, cores e notas.
Porém é vão lutar; não havendo conjunto
Capaz de prendê-lo, apenas ô formosura!
Se tende em minhas mãos nas tuas
Poderiam, ao ouvido, causá-los aos pés.
Salta qual uma voadora
Cruzou, arrojada ao azar,
E que não se sabe onde
Temendo se prenderá.
Folha que d´árvore seca
Deslumbra-se do vendaval,
Sem nada lhe acerte sulco
Onde ao pó retornará.
Gigante onda que do vento
Ergueu e empurrou ao mar
E roda passou e se ignora
Que da praia busca está.
A luz nos acerca temerosa
Brilhar próxima ao expirar,
E que não sei saber
Qual será último a ser.
Isso sou eu que do acaso
Cruzou do mundo sem pensar
De onde venho nem onde
Meus passos me levaram.
Gustavo Adolfo Bécquer
TRAD. ERIC PONTY
TRAD. ERIC PONTY
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