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sexta-feira, fevereiro 16, 2018

OUTONO SECRETO - Jorge Teillier – TRAD. ERIC PONTY

Quando as amadas palavras cotidianas
Perdem seu sentido,
E não se pode aludir nem o pão,
Nem d´água, nem da janela,
E tristeza há haver sido um anel perdido debaixo da neve,
E a recordação uma falsa esperança de mendigo,
E o falso todo diálogo que não sejas
Com nossa desolada imagem,
Há um se olham as destroçadas estampas
No livro do irmão menor,
É bom saudar os pratos e o mantel postos sobre a mesa,
E ver que no velho armário conservam sua alegria
O licor de guindas que preparou a velha
E as maçãs postas a se guardarem.
Quando da forma das árvores,
Há não é senão leve recordação de sua forma,
Uma mentira inventada
Pela turba memória do outono,
E os dias tem a confusão do desvão
Onde nada ascende,
E da cruel brancura da eternidade
Faz-se que a luz escapa de si mesma,
Algo nos lembra a verdade que amamos antes de conhecer:
Os ramos se quebram levemente,
A pomba se plena de adejos,
O celeiro sonha outra vez com o sol,
Acedemos para festa os pálidos candelabros
Do salão empoeirado
E o silêncio nos revela o secreto
Que não queríamos escutar.
Jorge Teillier
TRAD. ERIC PONTY

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