Pesquisar este blog

quarta-feira, fevereiro 14, 2018

LEOPODO LUGONES - TRAD. ERIC PONTY

Delação morosa

A tarde com ligeira pincelada
Que se iluminou paz de nosso asilo,
Apontou-se em teu matiz de topázio 
Duma sutil decoração morada.

Surgiu-se enorme à lua na enramada,
As folhas se agravavam teu sigilo,
E uma aranha nesta ponta dum fio,
Tecia-se sobre o astro, hipnotizada.

Assentado de morcegos nas rochas
Céu à maneira de chineses biombos,
Tuas rodas exangues sobre as pinturas.

Manifestam tua delícia inerte
E nossos pés um rio com jacinto
E corria sem o rumor até à morte.

Amapola

Com a tua saia de velhos brocais,
Se ia Clori saborosa até as trilhas,
Vê-las entre meses amarelados
Se inflavam-se em seus rincões dóceis.

Evocavam fandangos e rondeis,
Nas medias furaste panturrilhas,
E ao sangue pintava em seus círios,
Como duma descendia de encravados.

Só dum beijo.... Vasos resíduos canas,
Se fatigavam em ardente brisa,
Enquanto Clori com fingido nojo.

Sorria ajustando-se da tua camisa,
Brotou lhe duns pequenos partem ao roxo
Deste tremulo coral de teu sorriso.

Camélia

Como se chama do coração de augura:
-Clélia, Eulália, Clotilde – primeiro
Nome com muitos eles como um fino
Cristal, todo vibrante de água pura.

Se incende no claro de tua brancura,
Com diminuta chama, dum essênio,
Carmim. Alma lilial conta ao destino
Românticas novelas da amargura.

No vago perfil donde se destila,
Seu olho negro fatal desola aquela
Palidez. Tuas maneiras tão prolixas.

Como as dessas moribundas e rasas,
Que se cobrem dedos destes anéis,
E se desvivem pôr as sedas claras.
LEOPODO LUGONES
TRAD. ERIC PONTY

Nenhum comentário: