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segunda-feira, janeiro 01, 2018

Soneto IX até XI - Shakespeare, William - Trad. Eric Ponty

Soneto IX

Acaso ao medo ao canto duma viúva,
farás delapidar tua vida apenas?
Se morrer sem deixar progenitora
Ao mundo chorará como uma esposa?

Sombria de viuvez e não desta vida,
Pois tu não deixas sinais ao andar-te,
Entanto que de outras viúvas quando olham
Os olhos de seus filhos, chegam ao pai.

O que no mundo gasta perdulário
Vai duma mão há outra, não se perde,
O belo derrocado, dura pouco.

Não usados, se destrói já para sempre    
Não batas amor ao próximo teu peito    
De quem se impõe um crime tão abjeto.

Soneto X

Há nada quer, não queira negá-lo,
Pois se quer se vigia que de ti mesmo
Sem dúvida te amam muito sem embargo
Nenhum há sido nem foi correspondido.

O ódio criminal que carregas dentro,
Te incita a conspirar contra tua casa
E fazer-te derrubar seu nobre teto
Quando nobre és ver que este se repara.

Depõe teu empenho e eu, minha incerteza:
Produziras mais ódio de que ao amor?
Se como tua presença amável e doce.

Ao tentae quando menos compaixão    
Faz, por outros, de outro igual és justo    
Que a beleza reaviva em ti sem custo. 

Soneto XI

Neste tempo que tu mínguas cresceras,
Em um dos teus, ao que deixas partir 
Ao fresco sangue com jovem tu outorgas
Serás teu atributo quando envelheças.

Nele há sensatez, beleza, aumento,
Sem ele, necessidade, velho estrago,
Pensando como tu cessará tempo,
E ao mundo durará setenta anos.

Que aquela natureza desatente,
Os densos, ferros, rudes, se suprimam,
Corrução, o mais dotado mais obediente,

Compartilhar com cresces enquanto vive,    
Natureza talhe como seu emblema    
Imprima mais não deixes morras problema.

XIII
Se ficaras tu eu! Porém, ai, meu amor,
Tu só serás teu enquanto tu existas;
Desponte em abandonar esta ilusão
Chega em outro tuas fascinações finas.

Assim conseguirás que ela não se finde
Esta beleza que tu detém, posto
Que quando ao doce rama te imite
Serás de novo tu, ao que hajas morto.

Tão digna residência não merece
Que um mal tutor a deixe abandonada
As despesas do inverno e suas correntes.

Frio eterno da morte que nos dá vazio.
Não desaltere, pois, amor, ao dar-lhe
Ao teu filho que tu tiveste um dia: um pai.

Soneto XXI

Não farei como musa em seus versos
Lhes cantar em uma beleza enfeitada
Que se atreve usar o céu de seu ornamento
E, da força de encontrar em cada graça.

Um símile do belo que lhe iguala,
Ao sol, a lua, das gemas destes mares
À toda flor de abril e a mil raridades
Que habitam as esferas celestiais.

Deixa-me ser veraz, ame o escriba
E creia que meu amor não é mais formoso
Que ao filho de qualquer mulher nem brilha.

Qual o éter nos cálices deste ouro    
Se hão de fazer tumulto por meu bem ser    
Eu não farias, pois nada hei de vender.

Eric Ponty

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