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terça-feira, janeiro 09, 2018

Para Diótima - Friedrich Holderlin - Trad. Eric Ponty

Vastamente morto e repregado em si mesmo,
meu coração saúda a beleza do mundo,
seus galhos prosperam e enchem brotos,
adulvadas por uma seiva inovação.

ô, eu regressarei a viver,
assim como o feliz valor de minhas flores
abarcando sua dura cápsula
que se lança vazia ao ar e a luz.

Como hei mudado de ar de todo!
O que eu odiei e temi,
Se funde hoje aos seus ternos acordes
da melodia de minha vida;
e cada vez que a hora sonha,
uma misteriosa emoção me faz lembrar
os dias doirados da infância,
desde que falhe meu único bem.

Diótima, este brioso ser!
Alma sublime por quem meu coração
recoloca na angústia de viver
se promete a juventude eterna dos deuses.

Nosso céu durará!
Antes já que se verse, nossas almas,
unidas por suas insondáveis espessuras,
se havia reconhecido.

Quando, estou perdido pelos sonhos da infância
nítido como o azul do dia,
eu descansava sobre solo enriquecido
embaixo das árvores de meu jardim,
quando iniciava a primavera de minha vida
com suaves acordes de gozo e de beleza,
a alma de Diótima, como um zéfiro
passava entre galhos, sobre mim.

E quando, tal lenda
a beleza se iluminou de minha vida,
e me falei indigente e cego,
excluído de tanto paraíso,
quando o peso do dia me fatigava
E minha vida fria e sem cores vivas
deseja já, declinante,
o mudo reino das sombras:
então, do Ideal retornaram,
como desde céu, força e ânimo,
E apareceste radiante em minha noite,
divina efígie!

Deixando o porto silencioso para unir-me contigo,
espalhei de novo minha barca dormida
no azul do oceano.

Agora hei que retorno a te encontrar,
mais formosa que como te havia sonhado
nas horas solenes do amor.
Briosa e boa, ali se encontravas!

ô pobreza da fantasia,
somente vós, Natureza, podes criar este exemplar único,
no meio de suas eternas harmonias,
feliz seja tua perfeição!

Como os bem-aventurados em suas altas paragens,
onde a alegria busca refugio
E floresce a inalterável beleza
Emancipa da sua existência.

Como urania, harmonia
em meio do caos arrebentado,
ela segue divina e pura
Dentre ruina dos tempos.

Atrás prodigar-lhe todas homenagens,
meu espírito, obscuro, derrotado,
tratou de conquistar
ao que passa no interior seus pensamentos
mais agressivos. Que Ardor solar
E doçura primaveril, luta
E paz, lutam no fundo de meu coração
Diante de sua efigie angelical.

Muitas vezes me derramei ante ela
lagrimejadas de lágrimas de meu coração,
e tratei, em cada acorde da vida,
de vibrar ao uníssono com sua doçura.

As vezes, ferido no profundo,
exorei sua piedade,
quando ao céu que dela apossei
se abre claro r santo aos meus olhos.

Porém quando em seu silencio, rico imensamente,
com uma só olhada, uma só palavra
sua alma comunica com minha
sua paz de sua plenitude,
quando vejo aos deuses que me animam
deslumbrar uma chama em sua frente,
e vencido por sua admiração
me acuso ante ela de mim de mais nada,
então sua alma celeste me desaba
na doçura dum jogo infantil,
embaixo seu feitiço minhas cadeias
se denudam em gozo.

Assim desaparece meu pobre apanágio
e se ilumina último rastro de minhas lutas!
Minha natureza mortal entra
na plenitude duma vida de deus.

Em andante, meus elementos sois
esse onde nenhuma força terrestre,
nenhuma ordem divina nos afasta mais.

Ali onde saboreamos a união total.
Porque ali, tempos, já advindos
que nada valem, necessidade, são imêmores:
por fim então me sinto viver.

Assim como o aquário das Τυνδαρίδαι
com majestoso centeio
prossegue seu trajeto, a passível como nós,
nas alturas do céu noturno,
também desce, larga e brilhante,
desde a aborda do céu
vazia de folhagem onde a chama dum afetuoso descanso.

E nós, ô ardor de nossas almas,
encontramos em ti uma tumba bendita,
nos abismamos em sua folhagem
exultante dum júbilo mudo;
logo, quando ao chamado da hora,
acordados já, cheios dum orgulho novo
retornemos, como as estrelas,
Duma noite breve da vida.


Trad. Eric Ponty



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