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sábado, janeiro 20, 2018

Canceoneiro - Francesco Petrarca - Sonetos Escolhidos - Trad. Eric Ponty

I - Vós escutais em rima esparsa soar

Vós escutais em rima esparsa soar,
em suspiros que eu me nutria em coro,
de que em meu primo juvenil do erro,
ficará em parte noutro aquele soar.

De vários estilos em que eu choro,
fazendo de vã esperança e vã dor,
por esta via por prova entenda amor,
confio trovar piedade, não perdão.

Mas bem me vejo como o povo todo,
fábula foi grande tempo, onde espessa,
do meu modesto fato me envergonho:

Do meu divagar vergonho meu fruto,
me seduz a conhecer claramente
quando desejei o mundo breve sonho.

III - Era em torno do qual sol escondia-se

Era em torno do qual sol escondia-se,
pela piedade do Criador paraíso,
quando fui preso, e não me guardei,
que belo olhar vós outro duma dama.

Tempo não me parecia de atendê-lo,
contra o golpe de Amor, porém impôs,
que nem duma comum dor iniciada.
Porém meu ornamento não lhe fui honrando,

Encontrou-me amor de tudo desarmado,
Aberta a via por meus olhos coração.
Que lágrimas são fato porta cruzada.

Porém, ao meu orna minha dignidade
Feri-me de fecha naquele estado
Se armada meu mostrar puro arco.

IV - Que a infinita providência da arte,

Que a infinita providência da arte,
Demostrou admirável magistério,
de quem me fez este outro hemisfério
e Júpiter fez brando mais que marte.

Vindo tornar fulgurada esta carta,
muitos anos gosto selado verso,
fez Giovanni duma rede de Pedro,
meu reino do céu, fez-se tão de perto.

De se nascendo em Roma foi-me graça,
A Judeia sim, tanto servia ao status
humilde exaltar sempre por favor.

E cá um carente povo um sol faz fato,
Tal qual há casta e logo agradecia
Onde bela dona do mundo nasce.

V - Quando em novo suspiro chamar vou

Quando em novo suspiro chamar vou,
no coração nome que tem me escrito,
láudano isolado urdir do anterior,
em seu primeiro doce acento soa.

Vosso estado real, que encontro pois,
desfolha alta impressão do meu valor,
mas: basta grita um fim falar de amor,
digna reverência do amor excelente.

Que quase louvor ensinas há narrar,
da voz mesma voz deste meu chamado
que digna reverência do amor digno.

Se minha força Apolo se designa,
Que dizer sou sempre dum verde ramo,
com esta língua mortal presunçosa.

VI - Se extravio da folia do meu desejo

Se extravio da folia do meu desejo,
seguindo segundo fuga e retorno,
dos laços de amor ligeiros se soltam
vai adiante do meu lento caminhar.

Que quando reclamando seu envio,
pela escura estrada, minha escolha,
nem me vale espera, dar-lhe à volta,

que amor pela natura se fez resto. 
E, pois, freio força que se recolhe,
E me levanto em senhor de mim próprio,

Que meu mau grado a morte me transpõe.
Só por vir do louro donde se colhe,
da erva amarga, minha dor atraí,
custando aflige-me por me conforta.

VII A gula e sono e ócio e da pena

A gula e sono e ócio e da pena,
havendo mundo virtude banida,
onde dá curso seu quase perdida
de nossa natura deste costume.

Que se transcorre uma benigna luz,
do céu, que nos informa humana vida,
que dá coisa visível se adiciona,
fazer Hélicon nascer um relâmpago.

Qual vingança, do louro, qual mirto,
- Avara, e, nua vai à filosofia,
Disse a turba ao vil falseada intensa.

Pouco acompanhara por nossa via,
tanto prego tu, oh gentil espírito,
não libera há magnânima tua empresa.

VIII - Ao pé da colina da bela vista,

Ao pé da colina da bela vista,
presos terrenos membros suplicava
desta senhora que lhe nos enviava.

denso sono lagrimejando desta.
E livres em paz passavam por esta
da vida mortal, que animal desvia
Sem nos suspeitar trovar pela via.

da coisa que nosso andar nos moleste.
Mas do misero estado ouve nós meio
Conduzindo da vida anda serena.

Um só conforto, desta morte, temos.
Que vingança nos fez pesar à pena
Ao qual força outros presos ao extremo,
Rimam com maior legado cadeia.

IX - Quando planeta distingue à hora

Quando planeta distingue à hora,
Há albergar com Touro se retorna,
que cada virtude acendeu cornos,
que vestiu o mundo de novas cores.

E não só pela grandeza há nós fora,
serras e montes, que floresce adorna,
mas dentro não apercebeu do dia,
gravido fia deste terrestre humor.

Onde tal fruto e similar se causa,
quase paga, trazendo dona ao sol,
e me movendo aos olhares perdi.

Cria d´amor pensar, ante palavras,
Mas como ela que governa vontade,
Primavera porque não mais haverá.


X - Oh gloriosa coluna que se sustem

Oh gloriosa coluna que se sustem,
nossa esperança e grão nome latino,
rancor me torceu do vero caminho,
ira de Júpiter venturosa praga.

Que não palácio, não ao teatro não chama,
Mas observa abeto, uma faia, um pinho,
da erva verde e belo monte vizinho,
donde que se acende poetando d´agua.

Leve terra e do céu nosso intelecto,
o rouxinol que docemente assombra
todas noites se lamenta das penas.

Amoroso pensar imo nos enche,
Mas tanto bem só torso foi imperfeito,
Faz dia, senhor meu, minha companhia.

XVIII
Quando total retorno àquela parte,
Aclamo belo viso à dona Luz,
E minhas rimas ao pensar na luz,
Que ardi e grosseiro de parte a parte.

E que temo cerne que se parti,
E vejo preso ao fim de minha luz,
volto-me forma privada sem luz,
não me louve sem falha pura parte.

Coisa auscultar ao golpe da morte,
fujo, mas não tão veloz que desejo,
medir não venha como vem só.

Mudo estou, pois que à palavra morte,
fariam ranger a gente e meu desejo,
que à lágrima minha se emana só.

XIX
Só há animais no mundo que se altera,
visto que contra o sol a defender
outros porém que grão luz se ofender
não saem furor se não verso à noite.

E outros com desejo louco que espera
Júbilo força num foco, porque belo
provam outra virtude, que acende,
laçam meu louco e não esta última pura.

Eu não tenho força observar à luz,
Da dona, e não sou puro descrição,
Lugar tenebroso de hora tardia.

Mas olhos lagrimosos e enfermos,
Meu fado venderia na condução
E só que bem direito aquele arde.

CXIII - Que meio onde estou Senuccio meu

Que meio onde estou Senuccio meu,
(coisa fosse inteiro, vou me contendo)
vim fugindo do dilúvio e do vento
chamo súbito fato tempo rio.

Que sou seguro, dir-lhe-ei porque,
Não como trono ele fulgura medo
E porque mitiguei, não que morto
Lhe falarei de meu ardente desejo.

Tosto junto no amoroso reger,
vi onde nasceu aurora doce e pura
aquieta haver, meter trovão em bando.

Amor nem alma, fez meu repouso,
Ressoa fogo e suspende à emoção:
Quão agirei com seus olhos aguardando.


TRAD.ERIC PONTY

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