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domingo, dezembro 31, 2017

Sonetos V - VIII - Shakespeare, William - Trad. Eric Ponty

Soneto V

As horas obsequiosas que talharam,
O rosto que cativo destes olhares,
Serão as mesmas de que como tiranos
Desgraciem o que agora irradia vida.

O tempo que inexorável transfigura,
O agraciado estio que em fero inverno
O alento gelado, os ramos já nus,
A Graça embaixo neve, do campo ermo.

Se essência estival não permanece,
Prisioneira em sua prisão cristalina,
A beleza seu efeito ambos padecem.

Há um tempo sem deixar memória viva,      
As flores que hibernam já destiladas      
Não brilham, mas guardam essência alada.

Soneto VI

Não deixes, que tosco inverno macule,
Se não há destilado ao teu verão,
Conduza uma vasilha, procure onde
Incrementar seu erário e não enterrá-lo.

Este uso não é usura mal olhada,
pois plena de alvoroço há quem paguem,
e a ti te beneficia desta criança
de um igual a ti, que o dez se cabe.

Serás dez vezes mais feliz que agora,
Ao verte refletido entre outros dez
A morte não poderá com sua pessoa.

Pois se eles vivem, vives tu também;      
Mas não te desfrutes só teu legado      
Morte invadida farás iscas herdado.  

Soneto VII

Os observa quando luz terna renasce,
E assoma pelo oriente de sua vaidade,
Todos os olhos riram em homenagem
A sagrada majestade que deste astro.

E quando sua idade mediana alcança,
Robusto e jovem a um etéreo fim,
Não deixes de adorá-lo nestas olhadas
Que seguem em sua adorada travessia.

Mas quando já se retira lentamente
Em seu cansado carro, como dum velho
Os olhos que não horaram já que se volvem.

E deixam de segui-lo já em seu trajeto    
Tu que este zênite que deste caminho    
Sem filhos morrerás impensado linho.

Soneto VIII

Se tu és música, e, ti aflige ao ouvi-la,
Se ao doce és doce e és gozoso ao gozo,
Por que amas que torna com aversão
E acolhe com prazer ignominioso?

Se não és grato fundir milho ao vinho,
De notas que harmonizam se assomam
És porque te renegam com a voz suave,
Não és só para ti esta partitura.

As cordas, como sabes, se disponham
Por melodiosos pares e ao pulsá-las,
Ao tempo que nos cantam de um acorde.

Parecem pai, filho, e duma mãe amada,      
E sua canção sem letra e com graça      
Te cantas: Tu solista és nada, praça!

Eric Ponty

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