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quinta-feira, setembro 28, 2017

Eric Ponty - Sufrágio a Estátua Ressequida




 I – O axioma
Do mármore e memória.
Do silêncio e da sombra.
Do não haver e da pedra.
Do inteligível terna.

 II – matéria e esboço
É toda obra demanda inícios,
Meio mesmo do fim. Axioma.
Do mármore nasce da sombra
Da sensível ao silenciar-se
Da pedra na sua forma bruta.

Pode à pedra dizer-nos sobre
Esta ausência forma nos faz
Tangível dentro da fala árdua?

Pode a pedra dizer-nos sobre
Criada representação? Seu saber
Ocupação do espaço histórico.
Pode a pedra nos dizer sobre
Súbita falta? Corrosão? Erosão?
Desterro? Dor e arqueologia?

 III – matéria e a construção
Toda obra nasce muitos talhes,
Bastando-se contra foz mármore
A perpetuasse na dor sê-lo
Ao arrastar-se enquanto verdade.

Esta obra nasce muitos talhes,
Toda estética nutre mui ecos
Não estavam ali agora há pouco,
Gesto e mármore: movimento.

Toda obra nasce muitos talhes,
Própria ausência do preencher-se
Da interminável conjectura pueril
Saber palpável pele ser ao conceber.

Toda obra nasce muitos talhes,
Saber da identidade espaço
se houveram divisas silêncio
do ato gesto súbito do ar.

 IV – o mundo inteligível
Ausência ser obra feria
À consciência e da sombra
- Ruptura
Capaz partir do inteligível
Ser própria essência desta obra
Primogênita eterna infância
Era breve nascer, romper abrolhar
O mundo inteligível. Fazer-se
Presente do mundo sensível.

V – o mundo sensível
Uma obra não nasce à toa
Ao bel prazer do artesão
Ser corrompida vaidade.

Uma obra não nasce à toa
Ao bel prazer do artesão
Envolve-nos em seus fios
A primeira não lhe veja,
É para não lhe aperceba
De que não se tire nada
Nem mero cuspe do franco.
São noites, dias de vazio
Baques sem gozo perdão
Donde morte olha na porta
Toca suave melodia na horta.
Uma obra não nasce à toa
Ao bel prazer do artesão.

VI – a confecção da matéria
Não nasce à toa o detalhe.
A consciência, o ser pedra.

A consciência de silêncio.
De habitar a sombra frágil,
saber-se minério da fala.

Do não se saber ainda obra,
Desconhece-se o axioma.

A consciência se a edifica
Dando acaricia tez sem sombra.

Já não nasceu à toa do detalhe,
São matérias se configurou
É carpir grito arremete-se
Ao tempo
À construção desse silêncio.

VII – limite da aspiração
O artesão apenas propõe
Para deixa-la dela ser
Conjectura nata rija,
Fazendo presença una.

O artesão apenas propõe
Do esboço que se floresça
De que são seus golpes no ar
Da obra ainda de que em sonho.

O artesão apenas propõe
Daquilo visto na noite
Dos anjos e dos demônios
Lhes sussurram-lhes altivos.

VIII – Translação da memória
Eu trasladei a repercussão
Nos Matozinhos assentar
Revolta Tijuco admirar-se
Em Santa Cruz silenciar bairro
Seu dos Montes sussurrar casas
Da Colônia ser contrafeito
Altares igrejas marmóreas
É dos artesões das lojinhas
Feiras da aparência imperava
À marmórea consciência pedra.

Brancura horizontes
Nasciam ali novos
Eu que trasladava
Em minha leitura
São João del-Rei.

Mármore e memória.
Silêncio e da sombra.
Não haver e da pedra.
Terna inteligível.
Éric Ponty

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